Dentro das muralhas dos presídios, longe dos olhos da sociedade, homens morrem todos os dias de forma brutal e silenciosa. Muitos deles jamais receberam uma sentença definitiva, estavam sob custódia do Estado aguardando julgamento, mas tiveram suas vidas interrompidas de maneira cruel. Esses indivíduos, independentemente dos crimes que tenham cometido ou das acusações que pesavam sobre eles, tinham direito à vida. No entanto, esse direito básico é ignorado diariamente nos corredores sujos e superlotados das unidades prisionais.
Cada uma dessas mortes representa uma história que se encerra sem dignidade. São pais, irmãos, filhos e companheiros que deixam famílias sem respostas. Muitos familiares só recebem a notícia dias depois, quando o corpo já está em condições irreconhecíveis. Alguns sequer têm a chance de realizar um enterro digno. A dor não é apenas do luto, mas da injustiça e do abandono. É o tipo de perda que carrega um peso duplo: a da ausência e a da impunidade.
As mortes dentro dos presídios não ocorrem por acaso. Elas fazem parte de uma engrenagem que prioriza o controle e a repressão, enquanto ignora completamente os direitos básicos de quem está sob custódia. Falta proteção, falta cuidado, falta humanidade. Em muitos casos, os assassinatos são anunciados dias antes, e mesmo assim nada é feito para evitar. Quando o corpo aparece, a resposta é quase sempre a mesma: investigações inconclusivas e silêncio institucional.
Os que morrem nos presídios não costumam ter nome nos noticiários. Viram apenas estatísticas que se acumulam ano após ano. Mas cada número esconde um rosto, uma trajetória marcada por erros, mas também por uma sociedade que falhou em oferecer alternativas. O abandono não começa na prisão; ele começa nas ruas, nas escolas precárias, nas oportunidades negadas, e termina com uma cova rasa cavada às pressas dentro do sistema penitenciário.
Em muitas unidades, a lógica é de sobrevivência, não de justiça. Detentos que não se alinham a facções específicas tornam-se alvos fáceis. Jovens que cometeram delitos menores acabam ao lado de criminosos perigosos, sem qualquer separação. A ausência de políticas de proteção interna faz com que muitos sejam executados diante da omissão de quem deveria zelar por suas vidas. A cela, que deveria ser um espaço de custódia provisória, vira um corredor da morte improvisado.
A dor das famílias é agravada pela burocracia e pela indiferença. Muitas vezes, os parentes precisam lutar para conseguir laudos médicos, documentos e informações mínimas sobre o que aconteceu. O sofrimento se transforma em revolta, mas raramente em justiça. E assim, essas mortes vão se empilhando, criando um rastro invisível de sangue e impunidade. A falta de transparência apenas reforça a sensação de que, dentro do sistema, essas vidas não valem nada.
Transformar essa realidade exige mais do que reformas superficiais. É necessário um reconhecimento público e político de que o Estado tem falhado gravemente ao permitir que cidadãos morram sob sua responsabilidade. Esses assassinatos não podem ser tratados como danos colaterais nem como parte natural do sistema. Precisam ser vistos como crimes que, muitas vezes, ocorrem com a conivência da omissão. A responsabilização é o primeiro passo para romper o ciclo.
Por fim, é preciso lembrar que a vida de cada pessoa que morre em um presídio importa. Não se trata de defender impunidade, mas de garantir que o Estado cumpra seu papel dentro da legalidade e da ética. Nenhuma sociedade pode se considerar civilizada se aceita com naturalidade a execução de seus presos. Resgatar a dignidade dessas vidas é uma tarefa urgente. Eles não são apenas números. São pessoas que tinham histórias, sonhos, erros e, acima de tudo, o direito de continuar vivos.
Autor : Abidan Ermalin